Os reflexos do ESG no mundo do trabalho em debate

O panorama ESG (sigla em inglês para Ambiental, Social e Governança), suas vertentes e possíveis implicações nas relações de trabalho foi tema analisado por três especialistas em reunião do Conselho Superior de Relações Trabalhistas (Cort) da Fiesp, na terça-feira (7/11).

Alexsandra Ricci, advogada e assessora técnica dos órgãos de estudo da FecomercioSP (Conselho de Sustentabilidade e Comitês de Energia e ESG), iniciou sua intervenção lembrando os princípios do Pacto Global da ONU em seus pilares de direitos humanos, medidas anticorrupção, trabalho decente, meio ambiente e responsabilidade ambiental. São pilares que envolvem igualdade de gênero, combate ao racismo, parcerias, o uso de energias renováveis, gestão de resíduos sólidos e a inserção na economia de logística reversa.

Ao tratar das práticas recomendadas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) sobre diretrizes e modelos de avaliação para as organizações, ela afirmou que é preciso conhecer e mapear os riscos em ESG nas organizações, adotar estratégicas, realizar diagnósticos e medir e monitorar o cumprimento de suas metas.

A escuta ativa é mecanismo para se apurar fatos e dar tratamento adequado no combate à discriminação e ao assédio moral e sexual nas organizações, segundo Alexsandra. Outro diferencial citado por ela é a criação de oportunidades de trabalho para pessoas acima de 50 anos ou campanhas de prevenção de doenças, por exemplo. “É preciso ir além do que a lei exige”, enfatizou ela, para quem governança é a base de tudo.

Alexsandra disse ser essencial o engajamento da alta liderança nos processos ESG, respeitando-se a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), evitando-se o greenwashing (quando a empresa tenta passar a imagem de sustentabilidade, sem ser verdade) e tendo atenção à due diligence (processo de investigação e análise de informações de uma determinada empresa) na cadeia de valor.

Maria Cristina Mattioli, presidente do Cort, afirmou que a indústria precisar estar atenta à due diligence e que o ESG não deve ser adotado apenas pelas grandes empresas, mas também pelas pequenas porque elas integram a cadeia de valor.

Já Priscila Mello, conselheira e fundadora da Defamília – estratégias para famílias empresárias e especialista em governança familiar, trouxe um outro viés para o debate, o das empresas familiares. Ela é idealizadora e cofundadora do Grupo +Mulheres em Conselhos. Para ela, é preciso compreender a diferença entre os conceitos de governança familiar e governança corporativa, bem como alinhar propósitos, o que traz prosperidade à empresa e à sociedade como um todo.

“O Brasil foi formado por famílias imigrantes. Uma empresa familiar sempre será familiar e precisará de apoio. Esse é um desafio”, afirmou. A governança familiar é a capacidade de uma família se unir em prol de um objetivo comum, criando uma visão de futuro compartilhada, estabelecendo pactos, definindo metas de perpetuação da família e de seu patrimônio.

Portanto, deve-se criar estabilidade patrimonial na família para colocar em prática o ESG e devolver o impacto positivo que gera à sociedade. “ESG é algo de geração de impacto e é um risco não ter práticas sustentáveis”, alertou Priscila.

A terceira expositora foi Isabella Salton, bacharel em Administração de Empresas, pós-graduada em ESG, Liderança e Inovação, cofundadora do Grupo +Mulheres em Conselhos e mentora do programa Fiesp “Elas na Industria”.

Isabela tratou do papel das empresas na promoção de um ambiente de trabalho justo, seguro, inclusivo, com ênfase na mudança da cultura organizacional, garantindo saúde aos colaboradores, inclusive mental.

A adoção de práticas ESG, ancorada no S, afeta as relações de trabalho em diversos quesitos como segurança no ambiente laboral; atração e retenção de talentos, o que depende de líderes inspiradores; melhoria da reputação; atração de investidores; aumento da rentabilidade; redução de custos; fidelização de clientes; e mitigação de riscos e combate ao preconceito.

Em sua opinião, a diversidade ajuda a empresa a ter melhores ideias e oportunidades, novos conceitos com novos olhares. “O S é uma mudança de paradigma”, afirmou. É o abandono do olhar da empresa no passado, quando se vivia de conquistas de market share, vender a qualquer custo e por volume, para o impacto que se quer causar hoje na sociedade. “Nossa atitude vai além do lucro”, disse, ao elencar as tendências do futuro, como a ascensão feminina, o uso de tecnologia e inteligência artificial, o trabalho remoto, a geração Z (os nascidos entre a segunda metade da década de 1990 e o ano 2010) no controle, frente ao envelhecimento populacional, e a economia Gig (trabalhos não-tradicionais ou trabalhos pontuais como geradoras de renda fora das relações tradicionais).

Isabella encerrou tratando da aliança pelos direitos humanos e empresas, lançado pelo Pacto Global da ONU, no final de outubro. O objetivo desta aliança é ser o principal espaço de discussão e referência no país para a proteção e o respeito dos direitos humanos no âmbito empresarial.

Fonte: FIESP

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