Com inflação, baixo crescimento e desemprego, Brasil vive estagflação

Estagflação é a situação por que passa um país quando há inflação alta e persistente, taxa de crescimento do produto baixa e elevado desemprego. Esse é o retrato atual do Brasil: inflação de dois dígitos, quase 15 milhões de desempregados que significam 12,6% de taxa de desemprego, e uma taxa de crescimento pífia do PIB este ano (4,78%) conforme está previsto pelo Boletim Focus do Banco Central. Este crescimento apenas repõe a perda de 3,9% de 2020, tal que o PIB per capita volta a cair. Ou seja, no fim das contas, o crescimento seria de apenas 0,88%. E, como a população cresceu 0,9%, no fim das contas o PIB per capita está em queda,

Os resultados das Contas Nacionais Trimestrais divulgados hoje pelo IBGE referentes ao terceiro trimestre do ano são muito ruins. Em primeiro lugar, o PIB do terceiro trimestre caiu 0,1% frente ao segundo trimestre, e este reduziu-se 0,4% frente ao primeiro trimestre, caracterizando a estigmatizada marca de dois trimestres negativos consecutivos, pelo qual alguns definem recessão técnica. De fato, a economia continua em recessão, conforme o Comitê de Datação do Ciclo Econômico – CODACE, definiu no primeiro trimestre de 2020.

Em segundo lugar, o PIB desses 3 trimestres deste ano praticamente se igualam aos dos iguais 3 trimestres de 2019; das 12 atividades produtivas medidas pelo IBGE 3 delas (serviços de informação, instituições financeiras e serviços imobiliários) não foram impactas pela pandemia e até cresceram. Outras (extrativa mineral, transformação, construção, transportes, outros serviços e administração pública) não se recuperaram do tombo da pandemia ou têm valores inferiores aos de 2019. Pelo lado da demanda, o consumo das famílias e do governo continuam abaixo de 2019, enquanto a formação bruta de capital fixo – devido a nacionalização das plataformas de petróleo – aparece superior a 2019.

O setor de Serviços (com participação de 73% no PIB) foi o primeiro setor impactado pela pandemia. Já em janeiro de 2020 ele aparece estagnado e em abril e maio apresentou taxas médias mensais interanuais de -12%. Os piores resultados foram os de: transportes (-22%), comércio (-18%), outros serviços (os prestados as famílias, hotéis, bares e restaurantes, com -23%) e administração pública (com quedas expressivas em saúde e educação). Isto se deveu basicamente à necessidade do isolamento social para contenção da pandemia devido aos elevados índices de contaminação e de óbitos.

Progressivamente essas taxas negativas se reduziram e foram transformadas em taxas positivas elevadas a partir do mês de março de 2021 (excetuando outros serviços e administração pública que se tornaram positivas apenas a partir de abril). Da mesma forma do que na queda, esse resultado está associado a flexibilização do isolamento social que possibilitou a abertura do comércio, as viagens de ônibus interestadual e de avião, a frequência de hotéis, restaurante e bares, e a retomada de consultas e intervenções cirúrgicas em hospitais e postos de saúde públicos. Não deve ser menosprezada a manutenção da sobrevivência de parcela considerável de pessoas graças ao auxílio emergencial. Esta sobrevivência que se manifesta pelo consumo de bens não-duráveis por parte das famílias já está se estabilizando com o fim do auxílio tal que o consumo das famílias passará a depender da taxa de desemprego, da inflação e da perda de poder aquisitivo das famílias.

Pelo lado do emprego, o setor de serviços é responsável por 69% das ocupações da economia brasileira, sendo comércio (18%), outros serviços (32%) e administração pública (11%) as principais atividades empregadoras. São também estes os setores com maior contribuição ao PIB: respectivamente, 13, 18, e 17%. Com a elevação da taxa de desemprego que vinha se reduzindo, mesmo que timidamente, em 2018 e 2019, inverteu-se a tendência que atingiu o nível máximo de 14,9% em 2020 e 2021, respectivamente.

Continuamos em recessão e agora juntou-se a inflação e o desemprego caracterizando a estagflação.

Por Claudio Considera e Isabella Kelly – FGV IBRE

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