Exportações da indústria batem recorde, mas não revertem processo de reprimarização
As exportações da indústria de transformação brasileira somaram US$ 181,4 bilhões em 2022 e alcançaram o maior valor e o maior volume já registrados. O desempenho positivo é resultado do aumento de 15,5% nos preços dos bens e de 8,7% na quantidade exportada em relação a 2021, e contribuiu para evitar uma queda ainda maior na produção industrial, que recuou 0,7% em 2022 em relação ao ano anterior. Ainda assim, o resultado não foi suficiente para reverter o processo de reprimarização da pauta exportadora, o que reforça a urgência de eliminar os entraves à competitividade da indústria e da economia como um todo.
Os dados fazem parte de uma análise da Confederação Nacional da Indústria (CNI), com base em dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) e da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex). O objetivo da nota econômica é examinar os dados, avaliar o desempenho das exportações da indústria de transformação no último ano e estimular a discussão sobre as operações de comércio exterior, que é um tema diretamente relacionado ao desenvolvimento e à competitividade da indústria.
A análise enfatiza que o resultado positivo das exportações da indústria de transformação não significa que a tendência de perda de participação na pauta exportadora tenha se encerrado. Também não houve mudança no cenário de tendência de concentração em setores mais tradicionais da indústria de transformação ou interferência significativa na retomada das vendas externas de bens de maior complexidade tecnológica – que ainda não recuperaram o desempenho anterior à pandemia de Covid-19.
“O resultado das exportações da indústria de transformação foi importante. No entanto, preocupa ainda a tendência de perda de participação da indústria de transformação na pauta exportadora e o aumento da concentração das exportações em produtos de menor valor agregado. Para reverter esse cenário e permitir que as exportações industriais alavanquem mais empregos e renda na economia brasileira, é fundamental resolver os desafios de competitividade e, em paralelo, avançar numa agenda de integração internacional estratégica”, afirma a gerente de Comércio e Integração Internacional da CNI, Constanza Negri.
América Latina ganhou mais importância como destino de exportações – De acordo com a análise da CNI, as exportações de bens da indústria de transformação cresceram, principalmente, devido às vendas externas para a União Europeia, para a Ásia (exceto China) e para a América Latina (exceto Mercosul), que tiveram influência positiva no resultado de 18,7%, 17,4% e 16,3%, respectivamente. Em conjunto, esses destinos foram responsáveis por mais da metade do crescimento das vendas externas desses bens na comparação entre 2013 e 2022.
Mas a América Latina foi protagonista: as vendas do setor para a região, incluindo o Mercosul, somaram US$ 47,0 bilhões em 2022 – valor responsável por 27,0% do crescimento das exportações da indústria, entre 2021 e 2022, representando 25,9% da pauta exportadora da indústria de transformação e 51,2% das vendas externas de maior intensidade tecnológica no último ano. “Esse protagonismo reforça a importância da região para a indústria brasileira”, destaca o documento.
Tendência de concentração em setores tradicionais foi mantida – Considerando apenas as exportações da indústria de transformação, não houve mudança na tendência do processo de concentração nos setores tradicionais, produtores de bens de consumo não duráveis e semiduráveis, principalmente na indústria de alimentos. Apesar do registro de crescimento nas exportações em 2022, os setores de bens de consumo duráveis e bens de capital não conseguiram acompanhar o crescimento dos setores de bens tradicionais e de bens intermediários.
Indústria apresentou propostas para retomada do setor – A melhoria do desempenho da indústria brasileira no mundo está diretamente ligada à implementação das propostas prioritárias para os 100 primeiros dias de governo, produzidas pela CNI e entregue ao governo federal. Além da redução do Custo Brasil, o documento propõe uma política industrial focada em missões para solucionar problemas coletivos e voltada para ciência, tecnologia e inovação, nos moldes das políticas recentemente implementadas por países desenvolvidos, como os Estados Unidos e a Alemanha.
Também propõe aumentar a integração internacional do país por meio da inserção da indústria brasileira às cadeias globais de valor – com a conclusão do Acordo Mercosul-União Europeia como primeiro passo e, em seguida, a expansão dos acordos com os países da América Latina para impulsionar a construção de cadeias de valor na região. Ambos os mercados, junto do norte-americano, representam o maior potencial para o crescimento das exportações da indústria de transformação, sobretudo de bens de capital e de consumo duráveis, que tem maior complexidade tecnológica e maior valor agregado.
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