Sinalização sobre taxa de juros básica dos EUA pode pesar no câmbio daqui para frente
O tom mais duro com que o BC americano tratou a inflação na reunião do comitê de política monetária (FOMC) desta semana sinaliza um 2022 mais desafiador para os formuladores de política monetária no mundo, em especial nos países emergentes. As projeções condicionais dos membros do FED apontam a três elevações de juros em 2022, contra apenas uma no relatório de setembro, surpreendendo boa parte do mercado. No encontro, o FOMC também anunciou uma aceleração do tapering, apontando que o fim do programa de compra de ativos deverá acontecer até março do ano que vem.
“O primeiro teste de uso dessa nova perspectiva certamente será hoje, na reunião do Banco Central Europeu”, diz Livio Ribeiro, pesquisador associado do FGV IBRE.
Ribeiro aponta que uma condição de cenário mais apertada deve pesar no mercado de câmbio como um todo daqui em diante. Ele conta que, no modelo que desenvolveu para calcular a decomposição dos fatores que determinam a cotação do real, a influência do componente global não vinha se mostrando dominante. “Temos observado sinais contraditórios nos últimos meses. Na letra fria do modelo, vemos que o período do final de outubro até agora foi muito afetado pela diminuição do diferencial de juros”, descreve. O economista destaca que, separando entre cenário global, resíduo doméstico e diferencial de juros, ter essa última componente como mais relevante é algo pouco usual em sua análise periódica do câmbio doméstico. Sobre o ruído no campo fiscal gerado pela PEC dos Precatórios, Ribeiro afirma que o mercado tem sinalizado uma leitura mais positiva quanto a sua aprovação, “como se esta garantisse que em 2022 não se buscarão novos artifícios para se contornar as regras e ampliar os gastos”. Uma aposta que contém seu risco e que, portanto, pode não sustentar o humor dos mercados por muito tempo.
Ribeiro reforça que a aceleração da mudança dos ventos externos tende a complicar ainda mais o cenário para o BC brasileiro em 2022 – que, como apontou José Júlio Senna, chefe do Centro de Estudos Monetários do FGV IBRE, no IV Seminário de Análise Conjuntural, dependerá do apoio de Executivo e Legislativo no campo fiscal para garantir a potência da política monetária. Ribeiro lembra que um dos elementos da reunião do FOMC que estavam fora do radar para muitos analistas é a possibilidade de que o ciclo de alta dos juros básicos americanos tenha início logo após a conclusão do tapering, ou seja, a partir da reunião de maio, antecipando o impacto dessa alta para as demais economias. Ele lembra que o comitê de política monetária do FED demonstrou clareza sobre a persistência inflacionária – ou seja, que a inflação por si já justificaria a elevação dos juros –, indicando que a decisão sobre a largada na alta da taxa básica de juros dependerá da evolução do mercado de trabalho. “Na sessão de perguntas e respostas posterior à reunião, o presidente do FED Jerome Powell chegou a aventar a chance de que os juros subam mesmo antes da economia americana atingir o pleno emprego, argumentando que a aceleração da inflação poderia ser a maior ameaça para se alcançar essa meta”, lembra Ribeiro.
Fonte: FGV IBRE
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