Projeto investiga fibras biossintéticas

A iniciativa vai investigar, testar e validar alternativas de polihidroxialcanoatos ou fibras de polímeros PHA. Estas fibras são descritas pela iniciativa de moda sustentável como tendo o potencial para reduzir as emissões de carbono na cadeia de aprovisionamento da moda.

O financiamento do projeto é realizado pela Laudes Foundation, tendo ainda como parceiros a Bestseller, Norrøna, PVH Corp e a divisão de tecidos da W L Gore & Associates. A Bio Craft Innovation (anteriormente Biomize), a Full Cycle Bioplastics e a Newlight Technologies vão igualmente contribuir com soluções para validar o seu potencial, dando informação para escalar industrialmente a longo prazo. «A Laudes Foundation está entusiasmada por apoiar este consórcio como um primeiro passo para reduzir a dependência da moda de sintéticos com base em petróleo. Esta iniciativa é crítica para desbloquear o potencial de fontes renováveis de fibras no futuro e demonstrar a sua viabilidade para a indústria», considera Lakshmi Poti, diretora sénior de programas da Laudes Foundation.

«Um dos principais pilares da nossa visão para criar moda que “nada desperdiça e tudo aproveita” é reduzir os nossos impactos negativos a zero, com objetivo de eliminar emissões de carbono e inovar para a circularidade. Com iniciativas como esta, estamos a ajudar a criar uma mudança tangível e significativa», acredita Kashif Noor, diretor de inovação na Tommy Hilfiger, que pertence ao grupo PVH.

Para Katrin Ley, diretora-geral da Fashion for Good «há uma necessidade urgente de encontrar substitutos para as fibras predominantemente à base de combustíveis fósseis na indústria da moda através de soluções como os biossintéticos de fontes renováveis. Os polímeros PHA representam uma solução entusiasmante mas também desafiante para reduzir as emissões de carbono na indústria da moda e este projeto pretende impulsionar mais inovação neste espaço para as trazer para a escala industrial».

A indústria da moda representa cerca de 4% das emissões mundiais de gases com efeito de estufa, com 38% dessas emissões a serem provenientes da produção, preparação e processamento de matérias-primas e 3% do fim de ciclo de vida, revela a Fashion for Good.

A fibra de poliéster é uma das mais comummente usadas na indústria da moda, representando 52% da produção mundial de fibras. A produção desta fibra de poliéster com base em combustíveis fósseis é responsável por um aumento das emissões de gases com efeito de estufa e a sua utilização resulta na libertação de microplásticos no ambiente, salienta a Fashion for Good.

Sob a chancela da Renewable Carbon Framework iniciada pelo Nova-Institute, os biossintéticos obtidos de fontes renováveis, como subprodutos agrícolas, são uma solução para reduzir a produção de plástico e, consequentemente, a redução da pegada de carbono das marcas.

As promessas dos polímeros PHA

Os polímeros PHA fornecem uma solução de base biológica compostável em meio marinho e no solo às fibras de poliéster derivadas de combustíveis fósseis e pode ser um possível “santo Graal” para descarbonizar a indústria da moda.

Os PHA são produzidos através de um processo de fermentação usando várias matérias-primas à base de carbono, incluindo resíduos alimentares orgânicos, gás metano e dióxido de carbono capturado. Têm uma vasta gama de propriedades químicas, térmicas e mecânicas que podem ser trabalhadas para ter características de performance semelhantes às fibras sintéticas convencionais.

Os PHA têm sido usados para fazer filmes e produtos de embalagem, mas até agora tem havido limites à aplicação destes polímeros. Juntamente com isso, poucas empresas produzem atualmente PHA, o que significa que a oferta é limitada.

 

A Full Cycle Bioplastics usa resíduos alimentares, enquanto a Newlight Technologies utiliza uma tecnologia de captação de carbono que transforma o carbono de gases com efeito de estufa em biopolímeros PHA. Já a Bio Craft Innovation produz um compósito de PHA usando biomassa da produção de bambu.

As matérias-primas para a produção de fibras serão fornecidas por cada um destas empresas e elas vão demonstrar que os seus produtos podem cumprir as exigências da indústria da moda, tanto em qualidade como na quantidade necessária para a escala industrial.

Próximos passos

Como parte do projeto, as marcas parceiras vão ajudar a desenvolver e testar materiais, assim como fornecer o seu conhecimento técnico e visão industrial.

Isso irá permitir avaliar a adequabilidade dos polímeros PHA, acelerar o desenvolvimento e produção de fibras e determinar a escalabilidade na cadeia de aprovisionamento tradicional. O uso final das fibras será avaliado através de ensaios de degradação e reciclabilidade por parte de terceiros, para assegurar a circularidade.

Entretanto, a Bio Craft Innovation, a Full Cycle Bioplastics e a Newlight vão aplicar os seus conhecimentos em biologia, química e engenharia para não só produzir as fibras, mas também desenvolver mais a técnica de melt-spinning, um passo normalmente difícil mas fundamental na produção de PHA.

Até agora, os ensaios comerciais de melt-spinning não usaram polímeros PHA, indica a Fashion for Good, acrescentando que, como tal, é ainda necessário ultrapassar alguns desafios de produção e fazer avaliações adicionais para comparar os diferentes polímeros.

 

Juntamente com o estudo de viabilidade, o projeto inclui vários ensaios de degradação que serão realizados pela Organic Waste Systems, que vai fazer experiências em ambientes de solo, aterro, mar e rio em meados de 2022 para avaliar as propriedades bioquímicas das fibras e se estas se degradam nestes ambientes.

No final do projeto, previsto para o final de 2022, os resultados serão publicados pela Fashion for Good e ficarão disponíveis para consulta pública.

Fonte: Portugal Têxtil

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