Incerteza política supera a fiscal desde 2016, diz FGV

Em setembro, a incerteza econômica voltou a subir no Brasil. De acordo ao Indicador de Incerteza da Economia (IIE-BR), calculado mensalmente pelo FGV IBRE, o resultado de setembro (133,9 pontos), comparado ao período pré-pandemia, só perde para setembro de 2015,  quando o país perdeu o grau de investimento ao ter sua nota de crédito rebaixada pela Standard & Poor’s.

Desde o pico observado em 2015, a incerteza econômica não retornou à média registrada do início dos anos 2000 até esse episódio, de 98,5 pontos, saltando para uma média de 115 pontos até o choque sanitário do ano passado, quando escalou para 210,5 pontos em abril, e a partir daí registra média de 146,5 pontos. Outra característica observada pela economista Anna Carolina Gouveia, responsável pela análise e divulgação do IIE-BR, é que desde 2016, ano do impeachment da presidente Dilma Rousseff, a incerteza política passou a prevalecer sobre a fiscal. “Observamos que essa relação se inverteu apenas uma vez, no segundo semestre de 2020, no momento em que o governo Bolsonaro passou a acenar maior diálogo com o Centrão”, descreve. Anna Carolina lembra que dúvidas quanto à manutenção do auxílio emergencial e os programas de apoio a empresas em 2021 também colaboraram para que nesse período a incerteza fiscal ganhasse mais peso na composição do IIE-BR.

As incertezas fiscal e política são extraídas do componente do IIE-BR que identifica a percepção de incerteza econômica em notícias publicadas nos meios de comunicação. O IIE-BR é resultado da ponderação desse componente, chamado Mídia, com o componente Expectativa, numa proporção, respectivamente, de 80% e 20%. O componente Expectativa é calculado com base na dispersão das estimativas para IPCA, Selic e câmbio para 12 meses à frente. Anna Carolina lembra que no pico de incerteza de abril de 2020, a piora da Expectativa foi maior do que a observada no componente Mídia. “A incerteza relacionada à Expectativa demorou mais tempo para recuar, mantendo-se acima de 200 pontos até agosto, enquanto o componente de Mídia já havia recuado para baixo dos 150 pontos”, descreve, lembrando que as discussões sobre a extensão e as implicações daquela parada brusca na atividade das empresas e para a renda das famílias, bem como sobre formas de mitiga-las, elevou a dispersão das estimativas macroeconômicas. “Outro episódio em que essa dispersão se sobrepôs à reação do componente Mídia foi no pico de incerteza observado em 2002”, cita Anna Carolina, lembrando da reação do mercado financeiro frente ao favoritismo de Lula nas eleições presidenciais – que levou o então candidato a divulgar, em junho daquele ano, a Carta ao Povo Brasileiro, com a qual buscou afastar o receio de que um governo petista daria calote nas dívidas do governo.

Em recente artigo, a economista do FGV IBRE aponta o efeito dos choques de incerteza na economia, indicando que uma alta abrupta de 10 pontos do IIE-BR pode reduzir o investimento e o consumo de bens duráveis em até 1,2% e 3%, respectivamente. Em seu exercício, Anna Carolina identificou que essa redução ocorre em até dois meses, e depois passa a se diluir. No caso do emprego, ela observou uma queda de até 0,4%, dentro de um horizonte de cinco meses após o choque.

Fonte: FGV/IBRE

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